09/03/2008

Em homenagem a nós, simplesmente...


Legenda Foto:Locutoras do início da Fluminense FM. Da esquerda para a direita: Monika Venerabile (atual 98 FM), Edna Mayo, Liliane Yusim, Cristina Carvalho, Selma Boiron e Selma Vieira. Foto tirada na véspera do surgimento da emissora.

A homenagem é um pouco atrasada, mas a intenção é sempre a melhor, certo mulheres?
Se falar de rádio é sempre um prazer, é satisfação maior ainda ler e saber mais sobre a trajetória de profissionais do meio que tem muito a ensinar (e a inspirar).
Pesquisando na net, achei uma entrevista publicada no jornal carioca "Folha de Niterói", apesar de não ter a data, suponho que seja do início dos anos 2000, por causa do número da edição, em comparação as edições atuais e também pelo conteúdo da entrevista.
Uma das rádios da qual eu gosto de sua história, é a antiga "Fluminense FM", mais conhecida como a 'maldita' (atual afiliada BandNews FM no Rio), o formato, programação, propagandas e a forma como foi feita a seleção de locutores era para ser hoje uma referência para muitas 'radinhas' por aí.
A Fluminense Maldita tocava as gravações que as bandas faziam por conta própria, divulgando nomes que depois se tornariam marcas fortes na música brasileira. A Fluminense durou até 1994 e parece que nada a substitui. Por isso, em homenagem ao que mais gosto: música + rock + rádio = Paixão total, trago a entrevista de 2 locutoras que estão no barco até hoje: Mônika Venerabile e Lia Easter. E Feliz Dia das Mulheres, All Right?





Vozes de Niterói são sucesso no rádio
Duas locutoras de Niterói comandam diariamente oito horas de programas em badaladas emissoras de rádio. A menina prodígio dos anos 80 e hoje jovem veterana Mônika Venerabile, cria da Fluminense FM, a Maldita, e Lia Easter, também com passagem pela rádio que se tornou uma lenda no rock, são as estrelas, respectivamente, da 98 FM e Rádio Cidade. Elas ocupam o horário nobre do rádio e caminham em direções opostas. Mônika é uma espécie de Haroldo de Andrade do FM, apresentando um programa tipo revista, com entrevistas, fofocas de artistas, parada de sucessos e sorteio de brindes. A moça tem poder: seus ouvintes passam de meio milhão de pessoas.
Já Lia Easter enfoca um público mais selecionado, os amantes do rock. Fã incondicional do gênero, é apaixonada pela santíssima trindade da guitarra – Jimmy Page, Jeff Beck e Eric Clapton -, ela tem como grande mito a brasileira Rita Lee. "É a única pessoa no mundo de quem tenho medo de chegar perto. Rita é uma influência básica na minha vida", admite. Forte candidata ao título de "rainha" do pop-rock do rádio atual, Lia quer resgatar a lacuna deixada pela Fluminense FM como espaço lançador de novas bandas.
Altamente profissionais, as duas vozes de Niterói surfam nas ondas da música com total versatilidade e competência. Além da passagem pela Maldita elas têm vários pontos em comum: adoram Niterói, amam Itacoatiara, curtem o rock e são superdedicadas ao trabalho. As duas moças vão dar ainda muito mais o que falar.
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Ela está de volta a duas de suas praias, o rock e Niterói. Na verdade, a locutora Lia Easter que comanda o horário nobre de 12h às 16h na Rádio Cidade, é uma profissional de várias praias. Aos 31 anos, 14 de carreira, ela nasceu em Niterói, cresceu em Teresópolis, morou um tempo no Rio e voltou de mala e cuia para viver na sua cidade natal. Mãe de um filho de sete anos, escolheu a tranqüilidade de Várzea das Moças para criar Dylan (homenagem ao lendário Bob Dylan não é mera coincidência).
Roqueira durante a semana, caçadora de novos talentos, Lia recarrega as baterias de 15 em 15 dias fugindo para Sana. Lá, onde não pega rádio, é que ela curte lazer, ouvindo o barulho dos rios e o canto dos pássaros. De volta a Niterói, fica ligadaça, sempre em busca de novos talentos. Freqüentadora assídua da Estação Cantareira e do bar Acorde, Lia escuta tudo quietinha, bem na encolha. Se gostar da banda, se apresenta e convida os novatos a levarem a fita demo para seu programa Versão Brasileira, que rola de 12h às 13h, na Rádio Cidade.
Dona de uma voz sensual, Lia Easter já passou pelos microfones da Flu FM, RPC, Univercidade e, até quatro meses atrás, foi locutora e coordenadora da Opus 90, especializada em música clássica. Se rock e erudito combinam, quem melhor responde é a própria Lia: "O clássico é a base de tudo. Se Bach, Mozart e Beethoven fossem vivos, eles seriam roqueiros", acredita.

Você sentiu muita diferença ao sair do clássico?
Lia Easter – Não. Música clássica e rock tem tudo a ver. Eu disse isso para o Jimmy Page e ele concordou comigo. A música erudita é o princípio de tudo.

Como era seu trabalho na Opus 90?
Lia Easter – Superlegal. A Opus acabou há quatro meses, o que considero um dos maiores crimes do rádio. Música clássica é eterna e tem um público ótimo. Eu fazia coordenação e locução. A programação era bem variada: tinhamos programa de instrumental, de jazz, de cinema. A idéia era também colocar blues. É bobagem pensar que o ouvinte de música clássica está restrito ao mundo erudito. Ele também curte jazz, instrumental, bossa-nova... Na Opus desenvolvi ainda um projeto inédito, o Almanaque, voltado para crianças. Dois personagens, a Iuli e o Luquinha apresentavam as músicas contando a vida dos compositores eruditos na linguagem infantil. Foi muito bom.

E a volta ao rock, como aconteceu?
Lia Easter – O Flávio Salles, superintendente do Sistema JB, me chamou para coordenar a programação da Rádio Cidade e acabei ficando na locução, também. De cara, fui colocada no Versão Brasileira, de 12h às 13h. É um superprojeto, um espaço aberto para o lançamento de novas bandas, como a Flu FM fez nos anos 80. Já lançamos o Negril, o DKV e o Zé de Fato, do movimento Pop Goiaba, que nós apoiamos. Estamos abertos a todas as bandas e artistas novos da linha pop-rock.

O público de hoje é ligado em rock?
Lia Easter – O tempo todo. O público é superligado nas novidades. Ele tem necessidade de renovação, assim como o mercado. Prova disso foi a primeira festa do Versão Brasileira, que fizemos há duas semanas no Ball Room, com participação de Pedro Luis e a Parede, Negril e Herbert Vianna. Ficou entupido, não dava para andar.

Além das novidades, o que mais rola no seu horário?
Lia Easter – A programação normal e o melhor do rock. A gente toca Stones, Off Spring, Oasis, Penélope, Charlie Brown Jr. Tudo, enfim...

A produção musical brasileira de hoje tem qualidade?
Lia Easter – É excelente. O problema são os artistas que as gravadoras querem trabalhar. Mas acho que essa visão está mudando. As gravadoras já estão se interessando pelas novas bandas que o Versão está lançando.

O que você acha do rock de batom. As mulheres levam jeito?
Lia Easter – Total. Penélope é um grande exemplo. No palco, elas têm a mesma postura dos Mutantes. Gostei muito do show delas. Outro nome é Rita Lee. Ela é uma deusa, é poderosa, Mick Jagger babou por ela.

O que você gosta de ouvir?
Lia Easter—Rock and roll, não tem jeito. E os clássicos do rock das décadas de 60 e 70. Adoro o Led Zepelin – para mim a melhor banda de todos os tempos —, o The Who, Floyd, Purple, Zappa. Dos mais novos, gosto do Lennie Kravitz, que tem uma postura setentista, do Black Rose, Alice in Chains, que já não são tão novas. Gostava também do James Adiction, que já acabou. Hoje, gosto, ainda, do Bus, do Full Fights, até porque eles têm influência confessa dos Mutantes.

Quais seus lugares preferidos em Niterói?
Lia Easter – Em primeiro lugar, Itacoatiara. Adoro aquela calma. Gosto muito da Estação Cantareira. Sem o Circo Voador, é na Cantareira onde tudo acontece. Curto também o Acorde FM Bar. É uma grande opção. No Rio não tem mais casas médias assim, tirando o Ball Room e o Rival. Para comer, gosto de tudo, do exótico ao mais trivial. Vou muito ao Bodega do Norte, na Avenida Central, gosto da comida do Acorde (adoro a trouxinha à Frank Zappa), gostei daquele restaurante mexicano de São Francisco (Pablitos). Gosto, aliás, do povo de Niterói. É mais alternativo, mais calmo, as pessoas se conhecem.

O que é programa de índio em Niterói?
Lia Easter – Tentar ir a Camboinhas num domingo. É o fim.

Qual é o seu projeto de vida?
Lia Easter – Depois do aprendizado com o Almanaque, na Opus 90, eu e mais quatro sócios estamos criando uma rádio inteiramente infantil, com aquela linguagem ágil de cartoon, que a criançada gosta de ouvir. O projeto começa daqui a dois meses com um programa de duas horas na Tupi Fm, de 8h às 10h. Ao mesmo tempo que vamos tocar música, vamos conscientizar as crianças em termos ecológicos e práticos da vida e estimulá-las a ouvir coisas boas.
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Disposição para matar um leão por dia. É essa a recomendação que a veterana Mônika Venerabile, uma das primeiras vozes femininas do rádio, faz aos jovens que quiserem enveredar pelos caminhos da locução. Radialista há 25 anos, ela chega ao auge de sua carreira comandando na 98 FM o Show do Rio, programa ouvido por 550 mil pessoas, de 9h às 13h.
Simpática, comunicativa, Mônika não tem nada de estrela. Pelo contrário: é pura sinceridade. Vaidosa, pinta as unhas, usa blazer, camiseta no tom rosa da moda. Mas não abre mão do jeans, o uniforme de sua geração. Aos 36 anos, a profissional que começou como repórter-mirim em O Fluminense é generosa com os novos. Não esconde que a paixão pelo rádio é a sua principal mola para o sucesso.

Você é uma das crias da Flu FM. Como foi sua chegada na Maldita?
Mônika Venerabile – Por acaso. O Luiz Antônio Mello conta no seu livro A Onda Maldita como foi o encontro. Ele me viu quietinha, triste, escutando walk-man no final de um corredor do prédio de O Flu. Perguntou quem era e disseram que eu tinha acabado de ser demitida por ser rebelde, insubordinada. "Essa menina é impossível", falaram. Aí o Luiz Antônio, que era diretor da Flu FM, disse: "É disso que estou precisando. Chama ela de volta". Não fosse este momento mágico, talvez eu tivesse desistido do rádio, essa coisa que eu tanto gosto. A Maldita foi um marco na mídia eletrônica.

O que você fez depois da Maldita?
Mônika Venerabile – Fui para a Cidade, uma rádio grande, mais comercial e popular. Depois, surgiu a proposta da Jovem Pan. Me mudei para São Paulo, fui líder de audiência como um programa como o Show do Rio, tipo revista. Era bem popular, mas com toda a estrutura que a Jovem Pan oferece. Nos anos 90, retornei à Cidade, onde fiz um programa que é um escândalo: Cidade do Rock. Deixei ele bem legal, em quinto lugar na audiência. Agora, estou há dois meses na 98, com o Show do Rio.

Como é o programa na 98 FM?
Mônika Venerabile – É uma revista mesmo. Entrevisto artistas, o Leão Lobo conta as fofocas dos artistas, toco a parada de sucessos e tem as promoções tradicionais dos programas populares. Por exemplo, quem descobrir o assassino da novela concorre a um aspirador de pó. É muito divertido. As pessoas participam. São entre 350 e 550 mil ouvintes por minuto. Na Rádio Cidade, eu falava para 55 mil pessoas. É outro universo, é o universo.

Você já está com saudades do rock?
Mônika Venerabile – Saudade eu mato em casa, escutando rock. Gosto de estar trabalhando numa bela empresa como esta. Era o meu sonho. Estou feliz da vida.

Qual é o rock que você gosta de ouvir?
Mônika Venerabile – É uma pena que o rock tenha parado nos anos 90. Gosto de escutar o Legião, que já acabou faz tempo, o Nirvana, que também já acabou faz tempo. Gosto ainda do Metallica, Led Zeppelin, The Who, Stones.

Existe diferença entre homem e mulher na locução?
Mônika Venerabile – Na verdade, as meninas se empenham mais. No meu caso, nunca senti discriminação. As mulheres conseguiram conquistar seu lugar. Hoje, cada rádio tem pelo menos uma locutora. Se uma mulher tem voz bacana, se tem o que dizer, se é dinâmica e tem doses de carinho e personalidade, vai em frente. Se chegar e só ler, aí não vai para a frente.

Quais as dicas que você pode dar para quem sonha em ser uma Mônika Venerabile?
Mônika Verenabile – Ter disposição para matar um leão todo o dia. Eu, com 25 anos de profissão, faço isso sempre. Ouço rádio desde de manhã, leio jornais, revistas, fico de antena ligada. Isso é o básico da comunicação. Tem muito medalhão que se considera pronto e acaba dançando porque se esquece da audiência. Todos os dias, gravo meu programa e escuto o que eu fiz. É importante também estudar línguas, principalmente o inglês, e observar o gosto popular. É preciso fazer de tudo para explodir o Ibope todo o dia. A nova geração é bem-vinda e se quiserem mais dicas da Monikinha, é só me procurar.


O que você acha do rádio de hoje?
Mônika Venerabile – Ele é muito mais rico. Com a segmentação, o público tem mais opções. Tem rádio que só toca música de carnaval, tem a Cidade que é radicalmente rock’in roll, tem rádios voltadas para o popular, como a 98. Há 20 anos, as rádios eram completamente iguais. Era tudo Rádio Cidade, só com música internacional. O rádio ficou assim por uns bons dez anos. Hoje, as emissoras podem se dar ao luxo de ter sua carteira de anunciantes dentro de estilo que fazem, seja rock, pagode ou carnaval.

O que você gosta de fazer em Niterói?
Mônika Venerabile – Faço tudo, tudo em Niterói. Gosto tanto da minha cidade. Tenho trabalhado muito, mas adoro curtir a Praia do Sossego. É bem legal. Praia é Itacoatiara, sempre. Para namorar, o melhor é Jurujuba. Eu ainda namoro. Não me caso por nada. Estou legal, em paz. Para comer, gosto dos restaurantes japoneses de São Francisco. Gosto também do Acorde Bar, do meu amigo Lelê. Ele sabe tudo de música. É uma casa de música feita por músico. Para recuperar o fôlego, malho na Fitness e nado no Niterói Swim.

Niterói tem programa de índio?
Mônika Venerabile — Camboinhas. O que é aquilo? A indiarada do Rio invade a praia. Não dá, tô fora!

Você fica quatro horas no ar, falando com ouvintes e entrevistados. Como é trabalhar naqueles dias em ninguém fica bem — triste, chateado, com dor de cabeça, de ressaca ou doente?
Mônika Venerabile – É complicado, mas a paixão pelo rádio é mais forte. Não tem cantor que é gago na vida normal e na hora de cantar não fala direito, como era o Nélson Gonçalves? É a mesma coisa. Há momentos na vida muito chatos e o jeito é ligar o piloto-automático. Tem que ser muito, muito, muito profissional mesmo para se desligar. Eu penso nas 500 mil pessoas que estão dependendo do meu otimismo. Aí, desligo rapidinho. A paixão pelo rádio supera tudo.

Qual é o seu próximo sonho profissional?
Mônika Venerabile – Eu queria fazer um programa de TV, mas sem ser aquela coisa de bonequinha, ficar repetindo o que os outros escreveram. Já fiz um programa na Record sobre Esportes Radicais. Queria trabalhar em alguma coisa que tivesse a minha cara. Poderia ser um programa de música, de esporte, mas que não me obrigasse a ficar sentada diante de um telepronter. Jamais seria apresentadora de telejornais. Já transcendi disso. Quero algo com personalidade. O público ganharia mais e eu também. Um dia, quem sabe, né?!

Mais informações sobre o tema:
Livro:
RÁDIO FLUMINENSE FM
A PORTA DE ENTRADA DO ROCK BRASILEIRO NOS ANOS 80
Maria Estrella

190 páginas
Editora Outras Letras, 2006

3 comentários:

Selma Boiron disse...

Desculpe mas a Lia Easter já não mais está no ar no Rio de Janeiro há tempos!! Faz a rede Venenosa de rádios rock - onde estive até bem pouco tempo tb. - antes de voltar à Paradiso. Esta matéria deve ter uns 7, 8 anos pois o Dylan já é adolescente, tem 14, 15 anos! E já faz tempo q, no dial carioca, não há LIa Easter. Abs!

Aumente o Volume - Delírios sobre Rádio disse...

Oi Selma, tudo bom?
Realmente a matéria é antiga, postei mais pela homenagem a Fluminense FM e também pelas locutoras que fizeram história no dial carioca.
bjs

Selma Boiron disse...

Seu blog é muito bom, Fernanda! Era só pra atualizar o post ;) A Fluminense FM "Maldita" acabou oficialmente em 1994, sim, mas já tinha perdido seu diferencial há tempos. A 'aventura' durou 2, 3 anos e, depois, passou a viver de fama. Tentaram ressucitá-la em 2003 (?) mas tentar repetir a história NUNCA dá certo, né? As condições mudam, as pessoas mudam, ninguém fica igual - ainda bem! Até a Lia voltou - prima do dono q é - mas nem ela era mesma....Mudamos, ainda bem! Eu estou naquela fotinho pb do primeiro time da rádio - a Lia ainda era muito fedelha pra estar lá(Eu mesma tinha acabado de fazer 19 anos!)- e não tínhamos a menor noção do q estávamos fazendo...."Fizemos história!", uns gostam de jactar-se. Não! Fizemos o q achamos q tinha q ser feito. Deu certo por acaso. E isso não se repete. Abçs + uma vez!